quinta-feira, 20 de maio de 2010

As primeiras 24h na UTI

Cirurgia feita, agora era avaliar as respostas dele à ausência de anestésicos mantendo analgesia (anestesia é diferente de analgesia).

Tuco apresentou dificuldades para respirar devido ao edema na glote causado pela entubação prolongada. É um problema comum, mas que precisa de cuidados o mais rápido possível para poupar o paciente de estresse desnecessário, ainda mais já estando debilitado. Recebeu inalação de oxigênio com adrenalina, quando chegou na UTI, para diminuir o inchaço da glote e permitir que a respiração fosse menos difícil e cansativa para ele. Na primeira foto é possível ver a depressão que fazia na altura do estômago causada pela fôrça enorme que ele fazia para respirar (atenção para as luvinhas de gaze feitas pelas enfermeiras para que Tuco não retirasse as faixas da cabeça, muito úteis pois eles ficam querendo esfregar as mãos nos pontos e, as duas mangueiras que saem da cabeça são drenos que retiram o excesso de sangue e fluído dentro do couro cabeludo gerados pelo trauma da cirurgia).

A fome e a sede também estavam perturbando sua recuperação. Foram 12h de jejum antes da cirurgia e a esta altura já estava próximo de completar 24h sem alimentar-se ou beber água. É triste, mas muito necessário. A anestesia causa náuseas, imaginem a complicação que seria para ele, já com dificuldades de respirar por causa do edema, se viesse a ingerir água ou alimentos e vomitasse. Sem querer, o vômito pode acabar sendo inalado e causar problemas pulmonares. Portanto, é triste, mas vai passar. Quem passar por esta situação, recomendo que se segure por que dá muita vontade de fazer qualquer coisa para aliviar o sofrimento da criança. Lembre-se que é momentâneo, não é para sempre. Preocupe-se em acalentá-lo. Ouvir a voz de quem ele confia faz muita diferença. Arthur só parava de reclamar e ficava quietinho quando eu ficava cantando para ele suas músicas preferidas e o que mais ajudou foi poder aconchegá-lo no colo, meu ou do pai, o tempo todo na UTI (na segunda foto ele dorme profundamente no meu colo, já faziam 18 horas que eu estava com ele nesta mesma posição, nem bebi água para não precisar ir ao banheiro e valeu muito a pena conseguir dar a ele este descanso, agora era a vez do pai).

Para quem está por passar por isso, é assim mesmo, ficam cheios de fios e mangueiras. Um dreno na uretra para urina, dois drenos na cabeça, o acesso profundo no pescoço com duas saídas - no caso de Arthur em uma colocavam medicação e, na outra saída do acesso, soro com glicose por causa do jejum prolongado e hidratação, além disso, foi realizada transfusão de sangue, 100ml, logo que ele chegou na UTI, para prevenir anemia, o que ajudou ele a recuperar um pouco da força e diminuiu a palidez - e também ficava conectado no pézinho o sinalizador dos batimentos cardíacos e saturação de oxigênio. Tudo muito necessário para monitorar como o corpinho está reagindo. Olho nos monitores!!!

Outra coisa muito importante, verifique SEMPRE com os médicos e enfermeiros qual medicação está prescrita, medidas (quantidades) e em quais horários, se houve mudanças, etc. Pergunte SEMPRE qual é a medicação que está sendo dada para acompanhar se estão cumprindo a prescrição. POLICIE mesmo. QUESTIONE e DISCUTA (discutir não é brigar, hein!) a prescrição se achar que não está sendo suficiente ou se achar que pode ser diminuída ou interrompida. O médico, provavelmente, vai verificar/acertar as doses/medicamentos ou te tranquilizar a respeito. É muito importante que os responsáveis tenham o conhecimento e dado o consentimento sobre o que está sendo feito com a criança e estejam seguros com relação aos procedimentos. É dever do médico deixar tudo bem claro para quem acompanha o paciente incapaz. Entenda, é um DIREITO seu e do pequeno! E, ademais, VOCÊ (pai, mãe, avós, etc.) conhecem melhor a criança e suas reações que os médicos e enfermeiros(as) e por isso pode servir de intérprete delas e auxiliar os profissionais a melhor atender as necessidades dos baixinhos.

E é claro que é sempre melhor manter uma relação de respeito e confiança com as pessoas que tratam de nós e dos nossos. E, também, é preciso avaliar se não está procurando uma válvula de escape para o seu estresse antes de criar atrito com a equipe médica ou de enfermagem. Mas, se tem fundamento, não se intimide: reclame nas ouvidorias dos hospitais, denuncie, processe, etc. Como dizia Martin Luther King: o que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons.

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Não sabe quais são seus direitos e do pequeno?

O Estatuto da Criança e Adolescente diz:

Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente.

o mesmo estatuto deixa bem claro que:

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

O Estatuto da Criança e Adolescente completo:
http://www.sbp.com.br/show_item2.cfm?id_categoria=52&id_detalhe=710&tipo_detalhe=s

O Novo Código de Ética Médica na página do CFM - Conselho Federal de Medicina:
http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=category&id=9&Itemid=122

Atenção especial aos capítulos I - Princípios Fundamentais, IV - Direitos Humanos e V - Relação com Pacientes e Familiares.


Portal da SBP - Sociedade Brasileira de Pediatria - veja que criança tem direito a acompanhamento 24h, MESMO NA UTI: http://www.sbp.com.br/show_item2.cfm?id_categoria=65&id_detalhe=1877&tipo_detalhe=s

Atenção responsáveis, nós temos o direito, inclusive, de acompanhar a REALIZAÇÃO DE TODOS OS EXAMES, mesmo TOMOGRAFIA, e ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS. O único momento no qual podemos ser impedidos de acompanhá-los é na sala de cirurgia, OK?!

Boa sorte e saúde para vcs e seus baixinhos!

6 comentários:

  1. Boa Sorte para você, tb passei por isso e hj meu bebe está ótimo.
    O pior já passou né?!!!!!!
    Bjs
    Patricia

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  2. Oi, Patrícia!
    Sim, o pior já passou.
    Ele está ótimo, mas houve complicações pós cirúrgicas que estou postando aos poucos pois me dói reviver o assunto. Acho importante dividir as informações com quem estiver passando pelo mesmo problema. Se quiser dividir a sua experiência é só me mandar um email contando, se possível com fotos de antes e depois, que eu coloco no blog em página especial para outros casos que estou montando.
    Obrigada pelo comentário!
    Felicidades para vc e seu bebê.

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  3. Oi Leda!Sou Adriane mãe do Arthur também.meu filho meu filho tem craniostenose sagital,quero saber quanto tempo levou para ele fazer a cirurgia,e quanto tempo ficou internado?

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  4. Oi, Adriane!
    Seja bem vinda.
    Já respondi para o seu email.
    Bjs e força!

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  5. Bom dia Leda!
    Procurando informações sobre esse procedimento no google encontrei seu blog, minha filha de 4 meses vai fazer essa cirurgia dia 12/03/2014, é minha primeira filha e estou mto angustiada, apreensiva, queria saber d uma coisa, essa febre q seu filho teve é normal dar após a cirurgia?
    Vamos manter contato pelo meu email anjacat@pop.com.br e facebook Lindenberg Priscilla Albuquerque
    Me responde assim q der!
    Abraço e fique com Deus

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  6. Olá Leda

    Sei bem o que é todo esse processo. Minha Sofia passou por isso aos 40 dias de vida.

    Mas hoje é uma mocinha linda de nove anos.
    Sorridente , carinhosa e inteligente.

    Parabéns pela iniciativa de auxiliar com informações outras mães que assim como nós estão ou já passaram por esse momento tão angustiante.

    Abraços

    Keila Alves

    Cuiabá/Mato Grosso

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