sexta-feira, 28 de maio de 2010

Dia 28 de maio - o dia "D" - manhã

Eu não sei como escrever este post.
Há fatos que desafiam até as pessoas mais céticas (e eu tenho um bom bocado de ceticismo).
Os próprios médicos não souberam explicar o que ocorreu neste dia, e eu menos.
Mas, mesmo um tanto cética, sempre acreditei nas palavras de Shakespeare, que diz "há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia". Agora, ainda mais.
Mas, vamos aos acontecimentos.

28/05/2010 - 03:30h. Febre alta, prostração
e respiração comprometida.
Nesta noite não dormi. 

Desde a noite anterior Tuco não ingeria líquidos, nem alimentos, e havia DOIS DIAS que não aceitava uma refeição de verdade, apenas o mínimo necessário para molhar a garganta e não deixar o estômago completamente vazio. Algo como duas ou três colheradas de mingau, ou sopa batida, e uns goles de suco em cada refeição. Mas, desde a noite anterior, nada de nada!

Embora o rostinho estivesse a cada dia menos inchado, a febre estava persistente. Baixava um pouco a temperatura quando medicado e retornava, a mais de 39°C, poucas horas após tomar Dipirona.

Continuava sentindo muitas dores ao ser tocado na cabeça, principalmente ao ser retirado ou deitado no berço.

A nebulização, com oxigênio e soro, permanecia a cada 6 horas. Como ele apresentava um cansaço profundo, tornou-se fácil fazer a inalação, visto que não brigava mais para tirar a máscara. Mas isso me punha mais aflita.

Procurava deixá-lo no berço, inclusive para fazer a inalação, para evitar a dor.

Ao amanhecer, começou um entra e sai de médicos de várias especialidades diferentes, conhecidos e desconhecidos. Cada um conjeturando acerca do que causava o estado febril e prostração, visto que todos os exames nada apontavam de anormal.

Dr. Almir, cardiologista que realizou o ecocardiograma na fase de investigação de outras más formações (anterior à cirurgia), foi, aproximadamente, o sétimo médico a vir ao quarto.

Informou-me que seria colhido sangue, novamente, para realizarem novas sorologias e investigação para tentar identificar bactérias e vírus raros. Resumindo, ninguém sabia o que ele tinha.

Disse-me, ainda, que formou-se junta médica para discutir o caso de Tuco e, a princípio, seria recolocado o acesso periférico para administrar soro, evitando assim desidratação e, caso o quadro perdurasse, à noite Arthur retornaria para monitoração 24h na UTI. 

Sabe, desde a suspeita de que Tuquinho tinha má formação craniana, nunca senti vontade de chorar de tristeza ou angústia. Mesmo no momento da cirurgia, sempre busquei me sentir confiante. Mesmo sabendo que podia acontecer algo errado, acreditava que esse não era o destino reservado ao nosso pequeno. Eu passava os dias a me concentrar no que eu podia fazer para ajudá-lo a passar por esse processo doloroso da melhor forma possível, mas nunca me permiti pensar que esse processo poderia levar meu filho embora. Eu sabia que havia o risco, mas não pensava nele. 

No momento que recebi a notícia de que Arthur poderia retornar à UTI, tive que lidar com algo que estava totalmente fora de cogitação. Tive que encarar o risco de frente e, neste momento, abalaram-se as estruturas de minha fortaleza interior. O mundo inteiro pesou sobre meus ombros. Tudo, ABSOLUTAMENTE TUDO, o que eu tinha vivido até esse momento da minha vida, pareceu apagar-se de minha mente. Pela primeira vez, passou pela minha cabeça que talvez eu tivesse de retornar para Natal sem Tuquinho em meus braços. 

Foi então que senti, da forma mais clara e certa, que, por mais que uma mãe ame todos os seus filhos igualmente, nada, nem ninguém, ocupa o lugar de um deles e, se por uma incomensurável infelicidade o pior acontecesse, jamais (NUNCA MAIS!) eu me sentiria inteira novamente.

Para sempre, em tudo que vivêssemos, estaria faltando em cada dia o sorriso, a voz, os passinhos pela casa, o choro, as mãos pequenas estendidas pedindo colo, o cheirinho gostoso de banho tomado, o cheirinho gostoso do suor, as expressões tão intensas com a descoberta do mundo, o carinho delicado e gostoso, risadas enfim, o jeitinho tão particular do meu Tuquinho.

No momento em que fiquei só no quarto, desabei. Aproveitei que ele estava dormindo, entrei no banheiro do quarto e chorei muito. Muito, mesmo! Como fazia anos e anos que eu não chorava.

Liguei para Jaecy e pedi que viesse. Sua mãe se prontificou a cuidar dos meninos, lá em Natal, neste final de semana. Só pensava que, se viesse a ocorrer o pior, ele tinha que estar junto do filho, não é?! Embora o Serviço Social da Marinha pense o contrário. Aliás, mais perturbaram do que ajudaram nesse período, mas isso é outra história.

Minha irmã, Gládis, nos ajudou com as passagens de ida e volta de Jasso que chegaria no final da tarde no RJ. 


No hospital, a manhã passava e não houve jeito, acesso periférico para soro e medicação.

Nada de tomar café, pão, suco. NADA!

O curativo grande da cabeça foi trocado por um no formato de tiara. . Para fazer esta troca tive de segurá-lo molinho no colo. A Dipirona fazia pouco efeito.

O almoço chegou e também recusou, bebeu somente uns dois goles de suco.

Na foto, um momento um pouco mais disposto depois do banho. Uma hora depois não conseguia mais ficar sentado sem apoiar-se. Não registrei mais imagens dele neste dia. Só queria ficar perto dele todo o tempo, nem dormia.

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